Rio - Depois de 11 anos, muitas inovações e uma infinidade de notas 10, chegou ao fim o casamento de Carlinhos de Jesus com a Mangueira. O coreógrafo que revolucionou o conceito de comissão de frente usando soluções criativas e até levitação não poderá surpreender mais o público da Sapucaí com suas novidades. Motivo: "reformulação estrutural na escola". Pelo menos foi assim que o presidente do Conselho de Carnaval da Mangueira, Celso Rodrigues, explicou a saída do artista.

"A Mangueira resolveu fazer mudanças estruturais em vários setores. Um deles é a comissão. Nosso novo carnavalesco (Roberto Szaniecki) tem um outro projeto de carnaval e gosta de plajenar tudo dentro do desfile, desde a comissão de frente até o último carro alegórico. Com isso, por decisão do Conselho, entendemos que o Carlinhos não poderia participar dessa nova metodologia", revelou.

Para o dirigente, a mudança será importante para o sucesso do próximo carnaval. "Uma hora tudo tem que mudar. Estamos reestruturando toda a escola. Foram 11 anos e grandes trabalhos na Mangueira. Agora é outro carnavalesco. Antes, o Carlinhos era responsável por tudo. Agora é diferente", completou. Recém-chegado à Estação Primeira vindo da Grande Rio, Roberto Szaniecki contou que não entrou em atrito com Carlinhos de Jesus e se mostrou surpreso com a notícia da saída do coreógrafo.

Carnavalesco nega "guerra de vaidade"

"Conversei várias vezes com o Carlinhos e chegamos a bolar duas idéias. Todos sabem que minha abertura é cheia de elementos e acho que poderia se adequar à dele. Dentro do meu projeto, a única coisa que mudaria é que ele iria ter menos responsabilidade, já que por contrato, eu é que desenho as roupas da comissão de frente".

Nos bastidores da escola, comenta-se que Roberto não estaria disposto a dividir espaço com Carlinhos de Jesus na criação da comissão de frente. Conhecido pelo estilo centralizador, Szaniecki queria diminuir o poder do coreógrafo.

Carlinhos de Jesus surpreso

Em viagem por Belo Horizonte, o coreógrafo confessou que a relação com a escola estava meio "difícil", principalmente por causa de sua agenda, mas negou qualquer tipo de briga e ficou surpreso com as declarações do presidente do Conselho de Carnaval da Mangueira. Sem polemizar, Carlinhos preferiu dizer que não entraria em qualquer "disputa" com o carnavalesco para idealizar a comissão.

"Não discuto com carnavalesco a questão da liberdade. Não sou totalmente autônomo, mas a escola sempre me deixou à vontade para fazer tudo. Acho que o Dr. Celso está equivocado e não está sabendo se posicionar. Cheguei a conversar com o Roberto para falar do próximo carnaval", revelou o artista, que chegou à verde-e-rosa em 1998 e foi campeão em seu primeiro ano com um enredo sobre Chico Buarque.

Ao analisar seu último trabalho, Carlinhos disse que por causa da crise que a escola passava, que culminou com a saída do ex-presidente Percival Pires, teve que trabalhar com um "orçamento limitado". "Em 2008, tivemos limite de custo e tive que criar uma solução que foi a comissão com as crianças de Recife, baseada na dança e sem muitos recursos".

Mangueira já pensa em substituto

Para 2009, Carlinhos esperava um panorama melhor. "Já tinha uma idéia excelente e bem original". Mangueirense de coração, ele não deverá ir para outra escola. Já na verde-e-rosa, até o momento não há substituto. "Não queremos simplesmente trocar um coreógrafo pelo outro. Vamos escolher com calma", finalizou Celso Rodrigues.