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Marcos Manso "Marquinho" Jornalista, Presidente da Associação de Imprensa - AIB Redator-chefe do Jornal Tribuna do Grande Rio Editor da Revista Samba & Turismo Editor do Jornal Folha da Baixada Diretor da Rádio Orkut Tribuna do Grande Rio

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Enredo da Estácio de Sá 2010

Enredo: 'Deixa falar. A Estácio é isso ai! Eu visto esse manto e vou por ai...'


Cara, pode vir com o papo que quiser. Que estava predestinado, ou escrito nas estrelas, que Deus escreve certo por linhas tortas. Mas sei, que quando tem que ser, é. E tá amarrado.

A parada já começou com a vinda de negros e mulatos alforriados ou vindo de fazendas de café, depois que a Isabel assinou liberando geral.

Sem profissão, nem eira, nem beira, subiram o morro e montaram seus barracos. E virou o quê??? Favela!!! Essas mesmas pessoas viviam de biscates e, quando estavam de bobeira, se dedicavam as batucadas de pandeiro e violão no reduto puro da malandragem. Dava de tudo: biscateiros, cafetões, boêmios, jogadores de carteado. E claro, muita bebedeira. Vez ou outra se arranjavam com as deliciosas polacas e francesas que também davam bobeira e coisas mais por ali, nos botecos da rua Maia Lacerda lá pras bandas da Praça Onze e da Zona do Mangue, ou seja, na Pequena África. Área também de outras figurrassas, como: Tia Ciata, Donga, João da Baiana, só alguns que eu tô lembrando agora. Aí, na boa!!! Vinha malandro de toda parte do Rio pra essa zoeira: Benfica, Madureira, Providência, Gamboa, de todo lugar. Só federal pintava por ali.

Pois foi justamente essa parada que garantiu a intensa vida noturna nessa área, brotando ali o berço do mais puro samba carioca, aquele dolente, pausado e marcado pela percussão. Pô!!! Tô falando do Estácio, do morro de São Carlos, onde os botecos mais famosos eram do Compadre, do Apolo e o lendário e encantador Café Nacional. Só bamba frequentava esses lugares. Há muito tempo esse era o point da malandragem e da cultura negra. Ficavam ali, a tamborilar nas mesas. Vou falar na boa!!! Só saiu musicão da cabeça dessa galera. Com Noel Rosa e Ismael foram mais de 10 sucessos. Esse pedaço era passagem obrigatória de todos os grandes sambistas. Sair do Estácio é que era o X DO Problema. Todo mundo tinha que ir lá, se quisesse garimpar as pérolas que eram compostas nesse mundo particular e inédito. Francisco Alves e Mário Reis sempre apareciam por lá.

E essa galera fazia samba como ninguém. Não preciso dizer que toda essa vida boêmia era mal vista. De vez em quando, os caras eram esculachados pelos canas, principalmente porque os sambas eram cantados depois das rodas de candomblé. Era perseguição direta em cima deles. Mas aí, malandro que é malandro bota banca. Né não!!! E Ismael botou. Eles queriam desfilar da mesma forma que os mauricinhos dos ranchos carnavalescos da época, sem qualquer encheção de saco da polícia. Criaram a "Deixa Falar", e deu certo. Desfilaram cantando seus próprios sambas, um deles foi "Se Você Jurar". Composição que é uma joia de Ismael e Nilton Bastos, e que nada mais era o fiel retrato desses malandros que jogam o caô "Se você jurar que me tem amor, eu posso me regenerar..."

E pensa que ficou só nisso?! Essa turma foi muito mais além!!!! O Ismael queria um samba para movimentar os braços, tipo pra frente e pra trás. Como o samba carioca guardava semelhanças com o maxixe, criaram um novo tipo de batida marcada por instrumentos de percussão. Os caras piraram!!!! E pra parada ficar mais tipo cortejo, Bidê (outro fera), o mesmo que fez junto com Marçal a clássica "Agora é Cinza", criou o surdo de marcação, fazendo com que os parceiros viajassem no compasso de suas composições.

E, pra acompanhar detalhes de ritmo entre primeira e segunda do surdo, o cara criou sabe o quê??? O tamborim!!! É cara, aquela paradinha que geral se amarra. Inclusive o pessoal da Mangueira ficou bolado com os caras da Estácio. E dessa admiração acabaram virando irmãos. Cartola pediu e Silvio Caldas levou um surdo pros caras. Os dois morros eram super entrosados. Os sambistas da Estácio estavam sempre na Mangueira e vice versa. Cartola fez até um samba para homenagear o pessoal daqui: "Velho Estácio".

Daí, o povo pirou geral!!! E Ismael mais uma vez lançou moda. Como lá no Estácio eles sempre se reuniam em frente a Escola de Normalistas, o cara colocou o nome de Escola de Samba nesse movimento todo. Ele falava que ia formar mestres na arte de produzir sambas. A idéia pegou geral. Em todo lugar uma outra Escola de Samba era fundada. Só lá nas bandas do Estácio apareceram muitas: "Cada ano sai melhor, Vê se Pode, Paraíso das Morenas", e por aí vai. E mais uma vez a sacação dessa galera revolucionou. Eles entenderam que uma só voz faria mais barulho e daria mais força ao movimento. Juntaram tudo num saco só, sacudiram bem, e fundaram a Unidos de São Carlos.

Literalmente botaram o bloco na rua, nas cores azul e branco e foram para os concursos disputar. O resultado não foi dos melhores, parecia um ioiô só. Tal de sobe e desce de grupo, cara, que quase pedi uma escada rolante.

Lembro que pelo menos duas vezes fizemos bonito. Uma foi "A Festa do Círio de Nazaré", e a outra em "Arte Negra da Legendária Bahia". E foi aí que se revelou outro bamba. Dominguinhos do Estácio soltou o vozeirão (que também nem preciso bater pra vocês qual é a do cara).

Aliás, vou contar pra vocês: querem falar de música? Podem falar da gente sem modéstia, tranquilo?! Pô! Quem tem em no seu reduto caras como já falei aqui antes, ainda brota um Gonzaguinha e um Luís Melodia. Só tenho que falar pra vocês que A Vida é bonita, é bonita e é bonita!!!

Mas, os caras ainda não estavam satisfeitos. Resolveram mudar tudo de novo. Agora somos a Estácio de Sá, assumindo as antigas cores da "Deixa Falar", o vermelho e branco. Mas isso tudo porque a parada cresceu tanto, que já não era mais só do morro, saca? Agora pegava a galera das comunidades vizinhas. Fomos promovidos a nome de bairro (zoação minha, galera!), e a malandragem não parou não. Saca só!!! A nossa quadra ficava também no Estácio e, depois de uma noite de muito samba e bebedeira, íamos relaxar e pedir abrigo com umas meninas, nossas vizinhas, que moravam numa vila muito Mimosa. Precisava falar mais alguma coisa, meu irmão?

Aí sim, demos alguns shows, tipo: "O Tititi do Sapoti, Chora, Chorões, O Boi dá Bode. De repente, veio o pancadão que a gente tava esperando, cara: 'Paulicéia Desvairada". Foi então que um grito contido, guardado no peito desse povo ecoou por todo o Rio!!! O morro desceu!!! Era a arte pro povo ser feliz de novo. O Leão correu por fora, e se lançou na jugular das outras, levando a caça de 70 anos como prêmio. Ganhamos o campeonato daquele ano.Depois, a parada não ficou muito maneira não. Mas, tranquilo, seguramos a onda. Somos guerreiros!!! Fizemos a Chita e ficou bacana. Além de tudo, somos os únicos que não podemos pular fora deste barco. Esqueceu que esse lance todo começou aqui??? Tá maluco?! Corre nas veias esse sangue vermelho que me faz explodir.

Legal mesmo é ter o que contar, sentir que o coração tem horas que parece que vai parar. Aí é que a adrenalina sobe e tu "Começaria tudo outra vez se preciso fosse". Só lembrar que é um Leão, é matar ou morrer!!! E Se alguém quiser matar-me de amor, que me mate no Estácio.

Pois para sempre vou vestir esse manto e sair por aí...

A Estácio é isso aí.


Chico Spinosa e Gebran Smera